Os Estados Unidos anunciaram, nesta sexta-feira (7), a suspensão da assistência financeira à África do Sul. A decisão foi atribuída a divergências sobre a política de terras do país africano e à ação movida pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça, acusando Israel de genocídio em meio ao conflito na Faixa de Gaza.
Desde que assumiu a presidência, Donald Trump já havia sinalizado a possibilidade de interromper o financiamento. De acordo com os dados mais recentes do governo dos EUA, quase US$ 440 milhões (cerca de R$ 2,5 bilhões) foram destinados à África do Sul em 2023.
A Casa Branca informou que, juntamente com a suspensão da assistência financeira, será elaborado um plano humanitário. Esse plano prevê a inclusão de agricultores africâneres e suas famílias no Programa de Admissão de Refugiados dos Estados Unidos.
Reação do Governo Sul-Africano
No sábado (8), o Ministério das Relações Exteriores da África do Sul se manifestou sobre o anúncio, destacando preocupações com a narrativa adotada. Em nota, afirmou que a decisão não leva em conta o histórico de colonialismo e apartheid do país.
O governo sul-africano também questionou a concessão de status de refugiado a um grupo economicamente privilegiado enquanto outras populações em situação vulnerável enfrentam dificuldades para obter asilo nos Estados Unidos.
Debate Sobre a Política de Terras
A política de terras da África do Sul tem sido um tema central nas discussões. O presidente Cyril Ramaphosa sancionou recentemente uma lei que permite a expropriação de terras pelo Estado com base no interesse público. Ele defendeu a medida, afirmando que seu objetivo é reduzir desigualdades na distribuição fundiária.
Historicamente, a distribuição de terras no país foi marcada por políticas coloniais e pelo apartheid, que resultaram na concentração da maior parte das terras agrícolas em posse de uma minoria branca. Dados de uma auditoria de 2017 indicam que proprietários brancos ainda detêm cerca de 75% das terras agrícolas, enquanto os negros possuem aproximadamente 4%.
O empresário sul-africano Elon Musk também se manifestou sobre o tema, afirmando que as políticas fundiárias do país afetam negativamente a população branca, classificando-as como “leis de propriedade discriminatórias”.
Relações Diplomáticas e a Ação na Corte Internacional
A decisão dos EUA também ocorre em um contexto de tensões diplomáticas. A África do Sul apresentou uma ação na Corte Internacional de Justiça acusando Israel de genocídio devido às operações militares na Faixa de Gaza. O governo israelense nega as acusações e afirma que agiu em resposta a um ataque do Hamas em outubro de 2023.
O corte de assistência financeira reflete mudanças na política externa dos Estados Unidos e pode impactar as relações entre os dois países nos próximos anos.