A recente declaração da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), sobre uma possível discussão no Congresso em torno da anistia para envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro provocou forte reação entre ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e gerou desconforto dentro do próprio governo.
Durante uma entrevista na quinta-feira (10), Gleisi afirmou que é “defensável” abrir diálogo no Congresso sobre penas mais brandas para alguns envolvidos nos ataques. Apesar de se posicionar contra o projeto de anistia que está em tramitação — por entender que ele favorece Jair Bolsonaro (PL) e militares aliados —, a simples sugestão de negociação foi vista por ministros do STF como sinal de fragilidade do Executivo diante do avanço da oposição.
Irritação no STF
Ministros do Supremo classificaram a fala como “absurda” e interpretaram a movimentação como um recuo estratégico do governo. Um deles afirmou que “o governo não deveria nem cogitar piscar”. Outro apontou que o Planalto estaria cedendo ao “jogo” do presidente da Câmara, Arthur Lira, e do líder do União Brasil, Hugo Motta, pressionados por parlamentares bolsonaristas.
Oposição avança no Congresso
A tensão se agravou após a oposição reunir os 257 votos necessários para aprovar o regime de urgência do projeto de anistia, o que acelera sua tramitação ao permitir votação direta no Plenário, sem passar pelas comissões.
Dentro do governo, a fala de Gleisi também causou incômodo. Aliados de Lula garantem que ela não tinha aval do presidente para se pronunciar sobre o tema. Pelo contrário: interlocutores do Planalto dizem que a declaração “não faz sentido” e que “revisar penas é atribuição do Judiciário, não do Legislativo”.
Tentativa de recuo
Na manhã seguinte, Gleisi tentou minimizar o impacto de sua fala, alegando ter sido “mal interpretada” e que sua intenção era defender a mediação entre os Poderes, e não sugerir qualquer tipo de perdão.
“Não tem anistia nenhuma como quer Bolsonaro”, reforçou a ministra, que voltou a criticar o projeto por representar, segundo ela, “impunidade aos responsáveis por atentar contra a democracia”.
Riscos e incertezas
No cenário atual, magistrados avaliam que a proposta deve passar na Câmara, mas encontra mais resistência no Senado. Ainda assim, há expectativa de que o próprio STF possa barrar o projeto, dependendo do texto final aprovado.