Arsenal internacional, milhões em espécie e obras de arte escondidas. Esses foram apenas alguns dos elementos encontrados em uma mansão avaliada em R$ 25 milhões, localizada no condomínio de alto padrão Novo Leblon, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. O imóvel pertence a Jonnathan Ianovich, apontado como operador financeiro e fornecedor de armas para o Comando Vermelho.

A operação, coordenada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro e o Ministério Público Estadual, se estendeu por quatro estados e resultou na prisão de dez suspeitos, incluindo Ianovich, detido em Araras, interior de São Paulo. As ações ocorreram no âmbito da chamada Operação Contenção, deflagrada com o objetivo de desarticular esquemas de tráfico de drogas, comércio ilegal de armamentos e lavagem de dinheiro em larga escala.
Armas de guerra e dólares escondidos em cofre

Durante a ação, os agentes localizaram 240 armas, entre elas 16 fuzis, diversas pistolas de calibres restritos e equipamentos com silenciadores. Mais de 43 mil munições foram apreendidas, algumas importadas de países como Estados Unidos, Israel, Japão e Turquia. No local, também foram encontrados cofres repletos de dinheiro vivo — US$ 24 mil em espécie — além de relógios de luxo avaliados em R$ 2,5 milhões.
Um caminhão estacionado próximo à residência escondia obras de arte que estão sendo periciadas para avaliação de autenticidade e valor. Os investigadores suspeitam que os quadros eram utilizados como instrumentos para ocultar o patrimônio ilegal.
Esquema de lavagem de dinheiro incluía compra e revenda de imóveis em nome de filhos
Segundo a polícia, Ianovich operava um esquema sofisticado de lavagem de capitais, adquirindo imóveis de alto padrão em nomes de laranjas e revendendo os bens por valores reduzidos a seus próprios filhos menores de idade. Relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificaram movimentações bancárias atípicas, incluindo depósitos em dinheiro com aparência de cédulas deterioradas — sinal de que os valores teriam sido enterrados, prática comum em redes criminosas.
Relação com marchand e escândalo no mercado de arte
A investigação também revelou transações milionárias entre Ianovich e Geneviève Boghici, viúva do famoso colecionador de arte Jean Boghici. Geneviève transferiu R$ 18 milhões ao empresário, valor que, segundo Ianovich, seria uma comissão pela venda de uma obra de arte avaliada em R$ 180 milhões a um comprador argentino — algo que nunca foi comprovado oficialmente. A conexão com a família Boghici reacende os holofotes sobre o escândalo de 2022, quando a filha de Geneviève, Sabine, foi acusada de aplicar um golpe milionário envolvendo quadros raros.
Geneviève se manifestou por meio de nota, afirmando que sua movimentação financeira é lícita e que Ianovich é alguém de sua confiança, a quem considera como um neto.
Conexão entre o luxo e o crime organizado
A investigação revelou que criminosos ligados ao tráfico vêm se estabelecendo em áreas nobres do Rio, como a Barra da Tijuca, usando condomínios de luxo como quartéis-generais. O armamento apreendido seria utilizado para reforçar o poder bélico do Comando Vermelho em territórios estratégicos, tanto na capital quanto em outros estados.
O secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, afirmou que a operação “atingiu a cúpula invisível do tráfico, os verdadeiros financiadores da guerra urbana”. Para ele, a ação mostra que o combate ao crime precisa ir além das favelas e mirar os “tubarões” que movimentam grandes volumes de dinheiro longe dos holofotes.
A operação também levou à prisão de Eduardo Bazzana, proprietário de um clube de tiro em São Paulo, acusado de fornecer armamentos ao grupo criminoso. Com ele, foram apreendidos 200 armas, 40 mil munições e veículos de luxo, incluindo um Cadillac avaliado em mais de R$ 2 milhões.
Investigação segue em andamento
A polícia segue aprofundando as conexões entre o tráfico de drogas, o comércio ilegal de armas, o uso de empresas de fachada e o mercado de arte. A expectativa é que novas prisões ocorram nos próximos dias.


